INTRODUÇÃO
Falar sobre ética nos dias de hoje é uma tarefa desafiadora, já que
vivemos num mundo em que os valores e os costumes da sociedade têm se
modificado com uma enorme rapidez. No entanto, também se constitui uma tarefa
importante e urgente, pois cada vez mais observamos que a nossa sociedade vêm
se conduzindo de forma antiética.
Como a igreja evangélica têm se
posicionado mediante tanta injustiça e corrupção? Os valores e a postura ética
da sociedade não estão se tornando influências comuns dentro da igreja? Qual o
papel da igreja dentro deste mundo corrompido? Alguns afirmam que é mais
difícil ser cristão nos dias de hoje do que há trinta anos. Esta afirmação é
verdadeira?
O nosso objetivo neste curso é entender
e aplicar os padrões éticos encontrados na Bíblia para o cristão moderno saber
contextualizar a sua fé e a sua postura como verdadeiro sal da terra e luz do
mundo.
UNIDADE I – CONCEITO
1
– Conceito etimológico
Os GREGOS tinham duas palavras muito
parecidas, na grafia e na pronúncia, para designar realidades também
relacionadas.
Eles usavam:
εθος
(pronunciamos étos) = para designar "hábito, costume"
ηθος
(pronunciamos êtos) = para designar a índole, no sentido de caráter e temperamento
natural da pessoa.
2
– A Ética como ciência filosófica
Parte da Filosofia, também chamada
Moral, cujo objeto, como ciência, é as leis ideais da verdade moral, e, como
arte, as regras idôneas para governar com acerto a vida. Em outras palavras, é
o conjunto de princípios que levam um grupo ou sociedade a viverem
honrosamente. Ex.: Paulo demonstrou preocupação ética em I Tm 4.12.
Como ciência filosófica, a Ética
estuda os deveres do homem na sociedade. Procura definir a conduta ideal do
indivíduo.
Como disse o filósofo brasileiro,
Mario Sergio Cortella: Ética é o conjunto
de princípios e valores que usamos para resolver as três grandes questões da
vida: quero, devo, posso.
Ética cristã, no entanto, não é uma
mera ciência de costumes e hábitos, não buscando a verdade e o bem
primariamente pela razão. A ética cristã não exclui a razão, mas a leva cativa
à obediência de Cristo (2 Co 10. 5). Em sua essência, é normativa, enquanto a
ética secular é mais descritiva. Vai muito além dos costumes, comportamentos ou
atitudes, pois tem a ver com o bem e o mal revelado nas Sagradas Escrituras, e
isso em termos absolutos. Portanto, Ética
cristã é o estudo sistemático dos princípios morais e
espirituais baseados nas Escrituras. Não é o estudo de costumes. “Por isso,
ela procura a verdade e o bem através do amor e da vontade de Deus revelada na
Bíblia.”
3
– A origem da Ética
Coube a um sofista da
antigüidade grega, Protágoras, romper o vínculo entre moralidade e religião. A
ele se atribui a frase "O homem é a medida de todas as coisas, das reais
enquanto são e das não reais enquanto não são." Para Protágoras, os
fundamentos de um sistema ético dispensam os deuses e qualquer força metafísica,
estranha ao mundo percebido pelos sentidos. Teria sido outro sofista, Trasímaco
de Calcedônia, o primeiro a entender o egoísmo como base do comportamento
ético.
Sócrates, que alguns consideram
fundador da Ética, defendeu uma moralidade autônoma, independente da religião e
exclusivamente fundada na razão, ou no logos.
Atribuiu ao estado um papel
fundamental na manutenção dos valores morais, a ponto de subordinar a ele até
mesmo a autoridade do pai e da mãe. Platão, apoiado na teoria das idéias
transcendentes e imutáveis, deu continuidade à ética socrática: a verdadeira
virtude provém do verdadeiro saber, mas o verdadeiro saber é só o saber das
idéias. Para Aristóteles, a causa final de todas as ações era a felicidade
(eudaimonía). Em sua ética, os fundamentos da moralidade não se deduzem de um
princípio metafísico, mas daquilo que é mais peculiar ao homem: razão (logos) e
atuação (enérgeia), os dois pontos de apoio da ética aristotélica. Portanto, só
será feliz o homem cujas ações sejam sempre pautadas pela virtude, que pode ser
adquirida pela educação.
Dividem-se os filósofos em
aprioristas (que raciocinam com idéias a
priori) e empiristas (só consideram as experiências confirmadas) quanto à
origem da moral. Os aprioristas admitem a ética como algo munido de validade
universal, independente da experiência. Quase todos os pensadores se incluem
nessa categoria, como: Sócrates, Platão, Aristóteles, Descartes, Spinosa,
Thomas Reid, Kant e outros. Já os empiristas, fazem da experiência, individual
ou coletiva, a fonte do conhecimento e da forma ética. Entre os empiristas
estão: John Lock, Helvetius, Herbert Spencer, Augusto Comte e outros.
4
- Conceito de Valores
É um conjunto
de qualidades que determina o mérito e a importância de um ser referente ao
binômio BEM e MAL. Por exemplo: Caráter, Honra, Fidelidade, Idoneidade. Ex: Se
quero fazer um contrato, procuro uma pessoa honesta. Se quero casar, procuro
uma pessoa que seja fiel, que tenha caráter.
Nós nascemos com
valores, independentes do credo, religião, porque todos nós nascemos com uma
lei interna que sempre diz "Faça o bem e evite o mal" - este é o
princípio da ética. E nós sabemos quando agimos corretamente porque essa lei
está dentro de cada um de nós na faculdade que se chama CONSCIÊNCIA.
5
–
Conceito de Moralidade
A Moralidade é uma relação da conduta
com a moral. Ou seja, um entrosamento do comportamento humano com os bons
costumes, deveres e modo de proceder dos homens, nas relações com os seus
semelhantes. Alguns filósofos entendem que a moral não muda, nem com o tempo,
nem com o espaço, nem com a cultura. Afirmam que ela tem princípios eternos e,
do ponto de vista cristão, ditados por Deus, podendo até ser chamada de uma
ciência teológica.
6
– A Lei Moral
A Lei Moral é a norma de conduta
extraída pela razão do exame da natureza e finalidade do homem. Ela regula o
comportamento humano desde o convívio externo até o mais íntimo e recôndito de
sua consciência. A razão descobre, na própria natureza do homem, as normas de
sua conduta constitutivas da Lei Moral a que, em virtude dessa mesma natureza,
o homem está submetido. O livre arbítrio de que é dotado o torna capaz de
transgredir essa Lei Moral e, dessa liberdade de seguir ou não seguir as
tendências e finalidades apontadas por sua própria natureza é que se derivam as
noções de mérito e culpa, e de responsabilidade, exclusivas do homem.
(1) Distinção entre Lei Moral e Jurídica. A Lei Jurídica está incluída
na Lei Moral, na mesma medida em que o Direito faz parte da Ética. Tudo aquilo
que é legitimamente jurídico é também moral, embora a recíproca não seja
verdadeira porque a moral abrange uma área de regulação muito mais ampla que o
Direito. Enquanto a Lei Moral regula o comportamento humano desde o convívio
externo até o mais íntimo e profundo de sua consciência, a Lei Jurídica regula
apenas as relações de convívio relativamente ao “seu”, isto é, relativamente a
tudo aquilo – e só aquilo – que é exigível por representar um direito a que
corresponde, via de regra, uma obrigação da parte de outro ou outros. Dar
esmola pode ser uma obrigação moral; pagar uma dívida é certamente uma
obrigação jurídica.
A esmola não é exigível; a dívida
certamente o é. Após o seu pagamento, a dívida não é mais obrigação jurídica,
mas permanece como obrigação moral.
UNIDADE II – A ÉTICA E CIÊNCIAS AFINS
1
– A relação da Ética com a Filosofia
A matéria em estudo está intimamente
ligada à Filosofia. Até mesmo porque o objeto de estudo da Ética, foi, antes de
seu surgimento como ciência, objeto de estudo puramente da filosofia.
Por exemplo: Por haver colocado o
problema moral no centro da Filosofia, considera-se Sócrates como o fundador
dessa posição na Ética ocidental. Dizia Sócrates que “bastava ao homem conhecer
a virtude para caminhar para ela”. Segundo ele, o homem só é feliz quando é
bom, e só é bom quando conhece. Acrescenta, ainda: “a sabedoria é o bem
fundamental”. Platão, por sua vez, equipara a virtude à felicidade, que somente
é completa na vida em sociedade. Segundo Platão, não bastava o indivíduo ser
eticamente bom, era necessário que fosse um bom cidadão. Aristóteles -
eudemonista (do grego eudaimonia – “felicidade”) – defendia o pensamento de que
a felicidade era o supremo bem na conduta humana. Por bastar-se a si mesma, por
si só, a felicidade torna a vida desejável e completa.
A árvore da filosofia:
Ética Gnosiologia
Política Estética
Lógica Metafísica
1) Ética – A conduta ideal do indivíduo.
2) Política – A conduta ideal do estado.
3) Lógica – Raciocínio que guia o
pensamento.
4) Gnosiologia – Teoria do conhecimento.
5) Estética – Teoria das belas artes.
6) Metafísica – Teoria da natureza da
existência.
2
– A Ética e a Sociologia
O relacionamento da Ética com a
Sociologia é bem definida por Emílio Durkheim,
onde podemos sublinhar as frases:
“Para se compreender um ato
moral é necessário compreender os preceitos de onde se origina – por certo, não
de regras particulares e, sim de um conjunto que, por sua vez, são aplicáveis a
todos os indivíduos de uma sociedade. O ser humano é um ser social, o seu
comportamento é vivido em sociedade e os atos morais são medidos pelos
conceitos dessa mesma sociedade. Logo, existe uma relação muito grande da Ética
com a sociologia. Uma análise dos sentimentos coletivos explicará o caráter
sagrado que se atribui às coisas morais”.
3
– A Ética e a Psicologia
A Psicologia é a ciência que estuda o
comportamento humano. Sob os mais variados aspectos, no campo dos estímulos e
das respostas.
A Ética por seu lado estuda os atos
morais do indivíduo, a partir do seu comportamento e as suas conseqüências
dentro do contexto do certo e do errado, do bem e do mal.
Logo, alguns aspectos éticos levam o
indivíduo a ser observado pela psicologia, em seu comportamento. Portanto,
essas duas ciências andam juntas.
4
– A Ética e as demais ciências
A Ética relaciona-se com outras ciências que
lidam com o caráter humano. A Pedagogia, por exemplo, não pode prescindir do
apoio da Ética. Uma vez que o caráter humano é formado mediante padrões
determinados pela Ética, e que esta formação pode ser orientada, ensinada pela
Pedagogia, vemos que estas duas ciências estão interligadas. Tão ligados estão
estes dois ramos do conhecimento humano que muitos consideram a Pedagogia como
uma das partes da Ética. O que talvez tivesse um fundo de razão. Porém, a
Pedagogia é uma ciência autônoma.
Outra ciência que se relaciona com a
Ética é a Teologia. Teologia é a ciência de Deus. Estuda o relacionamento de
Deus com o universo criado e preservado por Ele mesmo, tendo como preocupação
máxima a comunhão com o homem, expressão máxima de todos os seres criados. Considerando
que Deus é um Ser moral ,
e que o homem também é, não poderemos dissociar uma ciência da outra. Teologia
e Ética andam juntas. Uma serve de suporte para o estudo da outra. Vejamos:
Deus é à base de toda a moralidade; a Ética sem base teológica torna-se apenas
um ideal humanístico. Por outro lado, a religião, que envolve o aspecto
teológico e moral, acaba por associar ainda mais estas duas ciências. Como
exemplo, podemos citar a ética dos Dez Mandamentos (Êx 20:1-21). O Decálogo
ocupa um lugar central na vida do povo de Israel, e prescreve toda a orientação
teológica do certo e do errado, como regra do bem viver. Este fato levou Andrew
Osborn a afirmar com muito acerto: “Os Dez Mandamentos são a pedra angular da
ética hebraica, ocupando o mesmo lugar na religião de Israel que o Sermão do
Monte ocupa no Cristianismo”.
UNIDADE III – ÉTICA APLICADA
É correto mentir a fim de salvar uma vida? A pergunta postula um
conflito em normas éticas. Contar a verdade é mais importante do que salvar vidas?
O que você faria? As várias respostas a esta pergunta podem ser usadas para
ilustrar seis abordagens básicas à ética. Todos os pontos de vista éticos têm a
ver com perguntas éticas fundamentais: existem normas éticas válidas? Se
existem, quantas são? E se existirem muitas normas éticas, o que se faz quando
duas delas entram em conflito? A pessoa conta uma mentira para salvar uma vida,
ou sacrifica uma vida para salvar a verdade?
1 - Uma história e muitas alternativas éticas
As posições básicas que podem ser adotadas quanto à questão das
normas éticas podem ser ilustradas por um caso recente que envolveu o
Comandante Lloyd Bucher, do navio-espião Pueblo, que, com sua tripulação de 23
homens, foi capturado pelos norte-coreanos. Quando os interrogadores ameaçaram
matar a tripulação, Bucher assinou confissões, confessando falsamente a culpa
de fazer espionagem nas águas territoriais da Coréia do Norte. Estas falsas
confissões vieram a ser o fundamento para poupar as vidas da tripulação e levar
à sua libertação. A pergunta, portanto, é esta: a mentira de Bucher para salvar
vidas foi moralmente justificada? Ou, de modo mais geral, mentir para salvar
uma vida é moralmente certo em qualquer situação?
Não podemos deixar de
citar a história de Raabe e os espias, narrada no Livro de Josué. Raabe havia
escondido os espias no eirado de sua casa, mas quando indagada pelos soldados
do rei de Jericó, ela mentiu para salvar a vida dos espias. Volta-se novamente
a pergunta: mentir para salvar uma vida é justificável?
Vejamos as posições básicas que podemos adotar quanto às questões
de normas éticas.
· (1) O Antinomismo - A
primeira alternativa no que diz respeito às normas éticas é que não
existe norma alguma ou pelo menos nenhuma norma objetiva. Ou seja: estamos
literalmente sem lei (anti-nomos) para guiar ações éticas relevantes.
Neste caso
o comandante Bucher não está errado nem certo, pois não existem normas para se
avaliar. Mentir não é certo e nem errado, depende do ponto de vista de cada um.
(2) O Generalismo – Esta afirma que: Não
há normas universais. Reconhece que existem muitas normas éticas de
aplicação geral, mas não universal. O valor de uma ação não é julgado
pelo valor intrínseco e universal, mas pelo resultado da ação. Para este caso o
comandante Bucher é absolvido porque sua ação resultou na salvação de muitas
outras vidas. Mentir é errado, mas salvar vidas justifica o erro.
(3)
O Situacionismo – Esta posição afirma que há
uma só norma universal. De modo contrário àquilo que a palavra
“situacionismo” talvez parece subentender, ela não é usada para representar uma
ética completamente sem normas. O situacionismo está localizado entre os
extremos do legalismo e do antinomismo. Os antinomistas não têm
leis, os legalistas têm leis para tudo, e o situacionismo tem uma só lei. Essa
lei é o amor. O comandante Bucher deve ser julgado por sua motivação. O que o
levou a mentir? Foi um ato de egoísmo ou de amor ao próximo? Mentir é errado, mas mentir por amor, o torna
desculpável.
(4) O Absolutismo
Não-Conflitante – Os absolutistas tradicionais sustentam ou entendem
que há muitas normas absolutas que nunca entram realmente em conflito. Cada
norma abrange sua própria área de experiência humana e nunca entra em conflito
real com outra norma absoluta. Neste caso, o comandante Bucher, não tinha
realmente um conflito. Não existia a possibilidade entre mentir ou salvar
vidas. Ele não podia mentir. Poderia ter se calado? Poderia ter falado a
verdade? A continuidade da história a partir deste ponto pertence a Deus. Quem
poderia afirmar com precisão absoluta que os coreanos matariam toda a
tripulação?
(5) O Absolutismo Ideal – Estes
compreendem que há muitas normas universais conflitantes. Neste
quando normas éticas entram em conflitos se devem optar por aquela que trará
menos danos ou que causará menor mal. Neste caso se erra por desobedecer a uma
norma, mas se é desculpável por causa do dilema trágico em que a pessoa se
acha. O comandante Bucher errou ao mentir, mas pode ser considerado perdoado
porque escolheu o caminho que causaria menor mal.
(6) O Hierarquismo – Esta
posição afirma que há normas universais hierarquicamente
ordenadas. Embora as normas universais possam entrar em conflito, a
decisão ética deve ser tomada sempre em favor da posição ética superior, isto
é, a pessoa está moralmente com a razão ao quebrar a norma inferior a fim de
guardar a superior. O comandante Bucher acertou ao mentir, embora mentir seja
errado, escolhendo sacrificar sua vida em prol de sua tripulação.
2 - Éticas praticadas no mundo atual
Cada um de nós tem uma ética. Cada um de nós, por mais
influenciado que seja pelo relativismo e pelo pluralismo de nossos dias, tem um
sistema de valores interno que consulta no processo de fazer escolhas. Nem
sempre estamos conscientes dos valores que compõem esse sistema, mas eles estão
lá, influenciando decisivamente nossas opções.
Os estudiosos do assunto geralmente agrupam as alternativas éticas
de acordo com o seu princípio orientador fundamental. As principais são: humanística, natural e religiosa.
(1)
ÉTICAS HUMANÍSTICAS
As chamadas éticas humanísticas são aquelas que tomam o ser humano
como a medida de todas as coisas, seguindo o conhecido axioma do antigo
pensador sofista Protágoras (485-410 AC). Ou seja, são aquelas éticas que
favorecem escolhas e decisões voltadas para o homem como seu valor maior.
a)
Hedonismo
Uma forma de ética humanística é o hedonismo. Esse sistema ensina
que o certo é aquilo que é agradável. A palavra "hedonismo" vem do
grego e significa "prazer". Como movimento filosófico, teve sua
origem nos ensinos de Epicuro e de seus discípulos, cuja máxima famosa era:
"comamos e bebamos
porque amanhã morreremos". O epicurismo era um sistema de ética que
ensinava, em linhas gerais, que para ter uma vida cheia de sentido e
significado, cada indivíduo deveria buscar acima de tudo aquilo que lhe desse
prazer ou felicidade.
Como consequência de sua ética, os hedonistas se abstinham da vida
política e pública, preferiam ficar solteiros, censurando o casamento e a
família como obstáculos ao bem maior, que é o prazer individual. Alguns
chegavam a defender o suicídio, visto que a morte natural era dolorosa.
Como movimento filosófico, o hedonismo passou, mas certamente a
sua doutrina central permanece em nossos dias. Somos todos hedonistas por
natureza. O individualismo exacerbado e o materialismo moderno são formas
atuais de hedonismo.
O hedonismo não tem muitos defensores modernos, mas podemos
mencionar Gustav Fechner, o fundador da psicofísica, com sua interpretação do
prazer como princípio psíquico de ação, a qual foi depois desenvolvida por
Sigmund Freud como sendo o princípio operativo do nível psicanalítico do
inconsciente.
Muito embora o cristianismo reconheça a legitimidade da busca do
prazer e da felicidade individuais, considera a ética hedonista essencialmente
egoísta, pois coloca tais coisas como o princípio maior e fundamental da
existência humana.
b)
Utilitarismo
Outro exemplo de ética humanística é o utilitarismo, sistema ético
que tem como valor máximo o que considera o bem maior para o maior número de
pessoas. Em outras palavras, "o certo é o que for útil". As decisões
são julgadas, não em termos das motivações ou princípios morais envolvidos, mas
dos resultados que produzem. Se uma escolha produz felicidade para as pessoas,
então é correta. Os principais proponentes da ética utilitarista foram os
filósofos ingleses Jeremy Bentham e John Stuart Mill.
A ética utilitarista pode parecer estar alinhada com o ensino
cristão de buscarmos o bem das pessoas. Ela chega até a ensinar que cada
indivíduo deve sacrificar seu prazer pelo da coletividade (ao contrário do
hedonismo). Entretanto, é perigosamente relativista: quem vai determinar o que
é o bem da maioria? Os nazistas dizimaram milhões de judeus em nome do bem da
humanidade. Antes deles, já era popular o adágio "o fim justifica os
meios". O perigo do utilitarismo é que ele transforma a ética simplesmente
num pragmatismo frio e impessoal: decisões certas são aquelas que produzem
soluções, resultados e números.
c) Existencialismo
Ainda podemos mencionar o existencialismo, como exemplo de ética
humanística. Defendido em diferentes formas por pensadores como Kierkegaard,
Heiddeger, Sartre e Simone de Beauvoir, o existencialismo é basicamente
pessimista. Existencialistas são céticos quanto a um futuro róseo ou bom para a
humanidade; são também relativistas, acreditando que o certo e o errado são
relativos à perspectiva do indivíduo e que não existem valores morais ou
espirituais absolutos. Para eles, o certo é ter uma experiência, é agir — o
errado é vegetar, ficar inerte.
Sartre, um dos mais famosos existencialistas, disse: "O mundo
é absurdo e ridículo. Tentamos nos autenticar por um ato da vontade em qualquer
direção". Pessoas influenciadas pelo existencialismo tentarão viver a vida
com toda intensidade, e tomarão decisões que levem a esse desiderato. Aldous
Huxley, por exemplo, defendeu o uso de drogas, já que as mesmas produziam
experiências acima da percepção normal. Da mesma forma, pode-se defender o
homossexualismo e o adultério.
O existencialismo é o sistema ético dominante em nossa sociedade
moderna. Sua influencia percebe-se em todo lugar. A sociedade atual tende a
validar eticamente atitudes tomadas com base na experiência individual. Por
exemplo, um homem que não é feliz em seu casamento e tem um romance com outra
mulher com quem se sente bem, geralmente recebe a compreensão e a tolerância da
sociedade.
(2)
ÉTICA NATURALÍSTICA
Esse nome é geralmente dado ao sistema ético que toma como base o
processo e as leis da natureza. O certo é o natural — a natureza nos dá o
padrão a ser seguido.
A natureza, numa primeira
observação, ensina que somente os mais aptos sobrevivem e que os fracos,
doentes, velhos e debilitados tendem a cair e a desaparecer à medida que a
natureza evolui.
Logo, tudo que contribuir para a seleção do mais forte e a
sobrevivência do mais apto, é certo e bom; e tudo o que dificultar é errado e
mau.
Por incrível que possa parecer essa ética teve defensores como
Trasímaco (sofista, contemporâneo de Sócrates), Maquiavel, e o Marquês de Sade.
Modernamente, Nietzsche e alguns deterministas biológicos, como Herbert Spencer
e Julian Huxley.
A ética naturalística tem alguns pressupostos acerca do homem e da
natureza baseados na teoria da evolução: (1) a natureza e o homem são produtos
da evolução; (2) a seleção natural é boa e certa. Nietzsche considerava como
virtudes reais a severidade, o egoísmo e a agressividade; vícios seriam o amor,
a humildade e a piedade.
Pode-se perceber a influência da ética naturalística claramente na
sociedade moderna. A tendência de legitimar a eliminação dos menos aptos se
observa nas tentativas de legalizar o aborto e a eutanásia em quaisquer
circunstâncias. Os nazistas eliminaram doentes mentais e esterilizaram os
"inaptos" biologicamente. Sade defendia a exploração dos mais fracos
(mulheres, em especial). Nazistas defenderam o conceito da raça branca
germânica como uma raça dominadora, justificando assim a eliminação dos judeus
e de outros grupos. Ainda hoje encontramos pichações feitas por neonazistas nos
muros de grandes cidades brasileiras contra negros, nordestinos e pobres.
Conscientemente ou não, pessoas assim seguem a ética naturalística da
sobrevivência dos mais aptos e da destruição dos mais fracos.
(3)
ÉTICAS RELIGIOSAS
São aqueles sistemas de valores que procuram na divindade (Deus ou
deuses) o motivo maior de suas ações e decisões. Nesses sistemas existe uma
relação inseparável entre ética e religião. O juiz maior das questões éticas é
o que a divindade diz sobre o assunto. Evidentemente, o conceito de Deus que
cada um desse sistema mantém, acabará por influenciar decisivamente o código
ético e o comportamento a ser seguido.
a)
Éticas Religiosas Não Cristãs
No mundo grego
antigo os deuses foram concebidos (especialmente nas obras de Homero) como
similares aos homens, com paixões e desejos bem humanos e sem muitos padrões
morais (muito embora essa concepção tenha recebido muitas críticas de filósofos
importantes da época). Além de dominarem forças da natureza, o que tornava os
deuses distintos dos homens é que esses últimos eram mortais. Não é de admirar
que a religião grega clássica não impusesse demandas e restrições ao
comportamento de seus adeptos, a não ser por grupos ascéticos que seguiam
severas dietas religiosas buscando a purificação. O que pensamos acerca de Deus
irá certamente influenciar nosso sistema interno de valores bem como o processo
decisório que enfrentamos todos os dias. Isso vale também para ateus e
agnósticos. O seu sistema de valores já parte do pressuposto de que Deus não
existe.
b)
Ética Cristã
A ética cristã tem elementos distintivos em relação a outros sistemas. O teólogo Emil
Brunner declarou que a ética cristã é a ciência
da conduta humana que se determina pela conduta divina. Os fundamentos da ética cristã encontram-se nas Escrituras do Antigo
e do Novo Testamento, entendidas como a revelação
especial de Deus
aos seres humanos, e, portanto está presente na vida do homem desde o Éden,
senão vejamos:
·
Ética no
período da Inocência
Para se compreender a ética Cristã é
óbvio que temos que começar com o Antigo Testamento, devemos observar duas
características da ética hebraica, uma vez que o Antigo Testamento tem a sua
base na história do povo hebreu: (1) a ética hebraica é essencialmente
teocêntrica (Deus é a fonte de toda a exigência moral, e é o supremo bem); (2)
a ética hebraica é prática.
No período da Inocência, podemos
destacar os seguintes aspectos relacionados com a ética: (1) O homem foi feito à imagem e semelhança de
Deus. Ele era perfeito físico, mental e moralmente; além de ser dotado de livre
arbítrio; (2) Sua missão era: (a) ocupar a Terra demograficamente, (b) comer somente
ervas e frutas, (c) guardar o Jardim do Éden, (d) abster-se de comer da árvore
do conhecimento do bem e do mal, (e) viver em liberdade total com apenas uma
proibição, tendo como opção obedecer ou desobedecer a Deus, sob pena de morrer.
·
Padrões éticos
na época patriarcal
A época patriarcal é considerada
dentro do período que vigorou o regime em que grandes chefes de famílias se
destacavam dentro do plano divino, influenciando a história bíblica. A
liderança de um patriarca, com a sua morte, passava para o filho primogênito, e
assim sucessivamente. Vejamos alguns patriarcas mais importantes e os padrões
éticos vigentes na sua época:
(1) Noé – Ele não está dentro do período chamado patriarcal, mas era um
patriarca do seu tempo. Em sua época vemos que: (a) o pecado se alastrou
arruinando os padrões morais; (b) Deus desejou não ter criado o homem; (c)
houve a confusão de línguas e a conseqüente dispersão; (d) o Dilúvio e o Pacto;
(e) o desejo de unir as famílias para fazer um povo forte sob a liderança de um
homem, contrariando a vontade de Deus.
(2) Abraão, Isaque e Jacó – Esses são os patriarcas mais famosos.
Características marcantes: (a) o mundo havia se tornado politeísta; (b) Abraão
e sua promessa; (c) a salvação do homem contaria com a misericórdia de Deus;
(d) fé, circuncisão, sacrifícios, separação; (e) aqui começou o caminho do
Messias; (f) a linhagem dos fiéis (o remanescente); (g) toda a trajetória do
plano divino teve a sua resposta baseada na obediência de padrões éticos
estabelecidos.
·
Padrões éticos
na época de Moisés
Não poderíamos falar de ética sem
falar de Moisés e sem falar dos Dez Mandamentos. A grande
síntese da moralidade bíblica está expressa nos Dez Mandamentos (Ex 20, 1-17;
Dt 5, 6-21). As chamadas “duas tábuas da lei” mostram os deveres das pessoas
para com Deus e para com o seu próximo. O Reformador João Calvino falava nos
três usos da Lei: judicial, civil e santificador. Todas as confissões de fé reformadas dão grande destaque à
exposição dos Dez Mandamentos.
·
Conceitos
morais do povo de Israel no livro de Juízes
Do ponto de vista moral, o povo de
Israel, no período dos juízes, se conduziu pelos padrões éticos do Decálogo. A
Lei (Torah) era a regra de conduta, fé e prática. O povo estava vivendo uma
nova experiência, quase uma nação organizada, se bem que não havia uma unidade
nacional, mas as 12 tribos já viviam em torno de um mesmo ideal. Foram
aproximadamente 400 anos de obediência e vitórias, desobediência e derrotas.
Nesse período, os padrões éticos estabelecidos pela Lei foram questionados e
muitas vezes esquecidos.
·
Conceitos
morais do povo de Israel no período dos reis
Poderíamos chamar a ética desse
período de a ética dos profetas. Pois, foi nesse tempo introduzida a era dos
profetas, e Samuel foi o primeiro. Com a mudança da teocracia para a monarquia,
Israel estava vivendo uma nova era, sob vários aspectos. Nesse período, a ética
hebraica alcançou o seu clímax, quando profetas interpretaram para o povo, mais
claramente a vontade de Deus. Isso provocou grandes mudanças:
(1) Do ponto de vista social – (a) foram feitas grandes mudanças
sociais; (b) de seminômades, passaram a uma cultura agrária e urbana; (c) a
unidade nacional trouxe grandes responsabilidades
(2) Do ponto de vista político – (a) a grande mudança do regime
teocrático pelo monárquico foi o que mais marcou o aspecto político; (b)
aconteceu o envolvimento com questões e intercâmbio internacional; (c)
agitações políticas, guerras ideológicas e sujeição a outras nações.
(3) Do ponto de vista religioso – (a) a fé se encontrava divorciada da
prática da justiça; (b) a ética do Decálogo fora esquecida e materializada; (c)
os profetas tiveram que se esforçar muito para conseguir pouco.
(4) Do ponto de vista econômico – (a) as injustiças sociais foram
evidenciadas dando origem a uma elite privilegiada em contraste a uma classe
pobre e escravizada;
(5) Do ponto de vista moral – (a) tribunais corruptos; (b) juizes subornados;
(c) a embriaguez era comum entre homens e mulheres; (d) as capitais Jerusalém e
Samaria eram grandemente corruptas; (e) os profetas se esforçaram para
apresentar o ideal de Deus, e enfatizaram a mensagem de um Deus único, um Deus
santo e um Deus soberano; (f) os profetas fizeram um convite à ética do
Decálogo e usaram as experiências obtidas através da história.
·
Conceitos
morais cristãos (a ética de Jesus)
Jesus é a completa revelação da
vontade de Deus. Nele os ensinos morais da Lei e dos profetas se cumprem e são
aperfeiçoados. A justiça de Amós, o amor de Oséias, a santidade de Isaías e a
sabedoria dos sábios estão reunidas em Cristo.
(1) Jesus é o mestre supremo da moralidade – (a) Jesus sempre esteve
interessado na salvação do homem, e também no seu comportamento; (b) Jesus
ensinou princípios éticos e não regras apenas (isso deu ao seu ensino grande
validade e permanência); (c) Os ideais de Cristo são sempre atuais; (d) Jesus
deu ênfase à inseparabilidade da Teologia da Ética; (e) a moralidade de Jesus é
teocêntrica; (f) a ética de Jesus é para os crentes, e o ideal para toda a
humanidade; (g) ela apela para o comportamento interno; (h) a ética de Jesus é
baseada no amor.
(2) O conteúdo da ética de Cristo – O Sermão do Monte (Mt caps. 5 a 7)
não representa toda a ética de Cristo, mas é uma sinopse e um bom testemunho de
toda a Ética Cristã.
·
A ética da
igreja primitiva
As bases para os ensinos éticos da
igreja são fundamentadas em doutrinas bíblicas bem demarcadas: (1) é uma ética
cristocêntrica; (2) é uma ética do Espírito Santo; (3) a fé e o arrependimento
seriam o princípio da obediência à ética da igreja e de Cristo; (4) o amor
continuaria sendo o mais importante princípio da ética da igreja; (5) a justiça
seria destacada também na ética da igreja; (6) o culto racional (com a razão),
o desejo de agradar a Deus, a hospitalidade e a fraternidade fariam parte da
ética da igreja de todos os tempos; (7) a esperança escatológica faria parte da
mensagem da ética da igreja.
·
Padrões éticos
para o cristão moderno
A igreja que vive uma ética
fundamentada na Palavra de Deus se torna um agente transformador da sociedade.
Foi isto que aconteceu nos países protestantes que foram profundamente influenciados
pela ética cristã. Neles a democracia e a justiça tornaram-se fundamentos
básicos da sociedade. Observe agora alguns padrões éticos para o cristão
moderno:
(1) Ética teocêntrica – A ética cristã está fundamentada na revelação
de Deus e sua vontade, que está nas Escrituras. A questão básica é o que Deus
quer de nossas vidas, e isto está declarado em sua Palavra (Mq 6.8; Dt 8).
(2) Ética cristã – Está condicionada a Cristo, em quem encontramos a
mais perfeita revelação da vontade de Deus. A conduta correta nos torna
imitadores de Cristo, e deve resultar na nossa transformação, conforme a sua
imagem (II Co 3.18; Ef 4.11-13). Uma ética que nos torna apenas diferentes do
mundo, mas não nos aproxima da imagem de Cristo, não é cristã.
(3) Ética imutável – Os princípios morais estabelecidos por Deus são
válidos para todas as épocas, sendo um referencial para os cristãos que vivem
em uma sociedade em constante mudança (Tg 1.17; I Pe 1.24-25; Mt 5.17-18).
(4) Ética absoluta – Todos os homens estão debaixo das normas da lei de
Deus, e a quebra desta lei se constitui transgressão, resultando em pecado (I
Jo 3:4). Os homens são pecadores por não viverem de acordo com esta Lei
Universal (Rm 3.22).
(5) Ética abrangente – Não existe uma área da vida humana para as quais
Deus não tenha deixado as suas normas. No texto de Cl 3, podemos identificar as
seguintes áreas que envolvem a nossa vida: (a) vida pessoal (vs. 5-11); (b)
vida na igreja (vs. 12-16); (c) vida em família (vs. 18-21); (d) vida
profissional (vs. 22-25); (e) todas as nossas ações (vs. 17 e 23).
Considerações finais
Neste curso nos propomos a estudar os
princípios e valores da Palavra de Deus, que devem ser aplicados ao contexto
vivencial do cristão, para a formação de uma “inteligência moral”. Em suma,
Ética Cristã.
Na próxima etapa estudaremos a Ética
Pastoral, com a discussão de vários aspectos relacionados ao ministério
pastoral cristão. Serão abordados assuntos concernentes às condições morais da
autoridade pastoral, bem como a relação deste com a sua família, seus colegas e
a igreja.