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segunda-feira, 9 de abril de 2012

ÉTICA CRISTÃ




INTRODUÇÃO

           Falar sobre ética nos dias de hoje é uma tarefa desafiadora, já que vivemos num mundo em que os valores e os costumes da sociedade têm se modificado com uma enorme rapidez. No entanto, também se constitui uma tarefa importante e urgente, pois cada vez mais observamos que a nossa sociedade vêm se conduzindo de forma antiética.
          Como a igreja evangélica têm se posicionado mediante tanta injustiça e corrupção? Os valores e a postura ética da sociedade não estão se tornando influências comuns dentro da igreja? Qual o papel da igreja dentro deste mundo corrompido? Alguns afirmam que é mais difícil ser cristão nos dias de hoje do que há trinta anos. Esta afirmação é verdadeira?
          O nosso objetivo neste curso é entender e aplicar os padrões éticos encontrados na Bíblia para o cristão moderno saber contextualizar a sua fé e a sua postura como verdadeiro sal da terra e luz do mundo.

UNIDADE I – CONCEITO


1 – Conceito etimológico
          Os GREGOS tinham duas palavras muito parecidas, na grafia e na pronúncia, para designar realidades também relacionadas.
          Eles usavam:
          εθος (pronunciamos étos) = para designar "hábito, costume" 
           ηθος (pronunciamos êtos) = para designar a índole, no sentido de caráter e temperamento natural da pessoa.

2 – A Ética como ciência filosófica
          Parte da Filosofia, também chamada Moral, cujo objeto, como ciência, é as leis ideais da verdade moral, e, como arte, as regras idôneas para governar com acerto a vida. Em outras palavras, é o conjunto de princípios que levam um grupo ou sociedade a viverem honrosamente. Ex.: Paulo demonstrou preocupação ética em I Tm 4.12.
         Como ciência filosófica, a Ética estuda os deveres do homem na sociedade. Procura definir a conduta ideal do indivíduo.
         Como disse o filósofo brasileiro, Mario Sergio Cortella: Ética é o conjunto de princípios e valores que usamos para resolver as três grandes questões da vida: quero, devo, posso.
         Ética cristã, no entanto, não é uma mera ciência de costumes e hábitos, não buscando a verdade e o bem primariamente pela razão. A ética cristã não exclui a razão, mas a leva cativa à obediência de Cristo (2 Co 10. 5). Em sua essência, é normativa, enquanto a ética secular é mais descritiva. Vai muito além dos costumes, comportamentos ou atitudes, pois tem a ver com o bem e o mal revelado nas Sagradas Escrituras, e isso em termos absolutos. Portanto, Ética cristã é o estudo sistemático dos princípios morais e espirituais baseados nas Escrituras. Não é o estudo de costumes. “Por isso, ela procura a verdade e o bem através do amor e da vontade de Deus revelada na Bíblia.”

3 – A origem da Ética
          Coube a um sofista da antigüidade grega, Protágoras, romper o vínculo entre moralidade e religião. A ele se atribui a frase "O homem é a medida de todas as coisas, das reais enquanto são e das não reais enquanto não são." Para Protágoras, os fundamentos de um sistema ético dispensam os deuses e qualquer força metafísica, estranha ao mundo percebido pelos sentidos. Teria sido outro sofista, Trasímaco de Calcedônia, o primeiro a entender o egoísmo como base do comportamento ético.
          Sócrates, que alguns consideram fundador da Ética, defendeu uma moralidade autônoma, independente da religião e exclusivamente fundada na razão, ou no logos.
          Atribuiu ao estado um papel fundamental na manutenção dos valores morais, a ponto de subordinar a ele até mesmo a autoridade do pai e da mãe. Platão, apoiado na teoria das idéias transcendentes e imutáveis, deu continuidade à ética socrática: a verdadeira virtude provém do verdadeiro saber, mas o verdadeiro saber é só o saber das idéias. Para Aristóteles, a causa final de todas as ações era a felicidade (eudaimonía). Em sua ética, os fundamentos da moralidade não se deduzem de um princípio metafísico, mas daquilo que é mais peculiar ao homem: razão (logos) e atuação (enérgeia), os dois pontos de apoio da ética aristotélica. Portanto, só será feliz o homem cujas ações sejam sempre pautadas pela virtude, que pode ser adquirida pela educação.
          Dividem-se os filósofos em aprioristas (que raciocinam com idéias a priori) e empiristas (só consideram as experiências confirmadas) quanto à origem da moral. Os aprioristas admitem a ética como algo munido de validade universal, independente da experiência. Quase todos os pensadores se incluem nessa categoria, como: Sócrates, Platão, Aristóteles, Descartes, Spinosa, Thomas Reid, Kant e outros. Já os empiristas, fazem da experiência, individual ou coletiva, a fonte do conhecimento e da forma ética. Entre os empiristas estão: John Lock, Helvetius, Herbert Spencer, Augusto Comte e outros.

     4 - Conceito de Valores 
                É um conjunto de qualidades que determina o mérito e a importância de um ser referente ao binômio BEM e MAL. Por exemplo: Caráter, Honra, Fidelidade, Idoneidade. Ex: Se quero fazer um contrato, procuro uma pessoa honesta. Se quero casar, procuro uma pessoa que seja fiel, que tenha caráter.
                 Nós nascemos com valores, independentes do credo, religião, porque todos nós nascemos com uma lei interna que sempre diz "Faça o bem e evite o mal" - este é o princípio da ética. E nós sabemos quando agimos corretamente porque essa lei está dentro de cada um de nós na faculdade que se chama CONSCIÊNCIA.

5 Conceito de Moralidade
          A Moralidade é uma relação da conduta com a moral. Ou seja, um entrosamento do comportamento humano com os bons costumes, deveres e modo de proceder dos homens, nas relações com os seus semelhantes. Alguns filósofos entendem que a moral não muda, nem com o tempo, nem com o espaço, nem com a cultura. Afirmam que ela tem princípios eternos e, do ponto de vista cristão, ditados por Deus, podendo até ser chamada de uma ciência teológica.

6 – A Lei Moral
          A Lei Moral é a norma de conduta extraída pela razão do exame da natureza e finalidade do homem. Ela regula o comportamento humano desde o convívio externo até o mais íntimo e recôndito de sua consciência. A razão descobre, na própria natureza do homem, as normas de sua conduta constitutivas da Lei Moral a que, em virtude dessa mesma natureza, o homem está submetido. O livre arbítrio de que é dotado o torna capaz de transgredir essa Lei Moral e, dessa liberdade de seguir ou não seguir as tendências e finalidades apontadas por sua própria natureza é que se derivam as noções de mérito e culpa, e de responsabilidade, exclusivas do homem.
         (1) Distinção entre Lei Moral e Jurídica. A Lei Jurídica está incluída na Lei Moral, na mesma medida em que o Direito faz parte da Ética. Tudo aquilo que é legitimamente jurídico é também moral, embora a recíproca não seja verdadeira porque a moral abrange uma área de regulação muito mais ampla que o Direito. Enquanto a Lei Moral regula o comportamento humano desde o convívio externo até o mais íntimo e profundo de sua consciência, a Lei Jurídica regula apenas as relações de convívio relativamente ao “seu”, isto é, relativamente a tudo aquilo – e só aquilo – que é exigível por representar um direito a que corresponde, via de regra, uma obrigação da parte de outro ou outros. Dar esmola pode ser uma obrigação moral; pagar uma dívida é certamente uma obrigação jurídica.
          A esmola não é exigível; a dívida certamente o é. Após o seu pagamento, a dívida não é mais obrigação jurídica, mas permanece como obrigação moral.

UNIDADE II – A ÉTICA E CIÊNCIAS AFINS


1 – A relação da Ética com a Filosofia
          A matéria em estudo está intimamente ligada à Filosofia. Até mesmo porque o objeto de estudo da Ética, foi, antes de seu surgimento como ciência, objeto de estudo puramente da filosofia.
          Por exemplo: Por haver colocado o problema moral no centro da Filosofia, considera-se Sócrates como o fundador dessa posição na Ética ocidental. Dizia Sócrates que “bastava ao homem conhecer a virtude para caminhar para ela”. Segundo ele, o homem só é feliz quando é bom, e só é bom quando conhece. Acrescenta, ainda: “a sabedoria é o bem fundamental”. Platão, por sua vez, equipara a virtude à felicidade, que somente é completa na vida em sociedade. Segundo Platão, não bastava o indivíduo ser eticamente bom, era necessário que fosse um bom cidadão. Aristóteles - eudemonista (do grego eudaimonia – “felicidade”) – defendia o pensamento de que a felicidade era o supremo bem na conduta humana. Por bastar-se a si mesma, por si só, a felicidade torna a vida desejável e completa.

A árvore da filosofia:


 Ética                                                              Gnosiologia  

 Política                                                          Estética           

 Lógica                                                            Metafísica        


1) Ética – A conduta ideal do indivíduo.
2) Política – A conduta ideal do estado.
3) Lógica – Raciocínio que guia o pensamento.
4) Gnosiologia – Teoria do conhecimento.
5) Estética – Teoria das belas artes.
6) Metafísica – Teoria da natureza da existência.

2 – A Ética e a Sociologia
          O relacionamento da Ética com a Sociologia é bem definida por Emílio Durkheim[1], onde podemos sublinhar as frases:

“Para se compreender um ato moral é necessário compreender os preceitos de onde se origina – por certo, não de regras particulares e, sim de um conjunto que, por sua vez, são aplicáveis a todos os indivíduos de uma sociedade. O ser humano é um ser social, o seu comportamento é vivido em sociedade e os atos morais são medidos pelos conceitos dessa mesma sociedade. Logo, existe uma relação muito grande da Ética com a sociologia. Uma análise dos sentimentos coletivos explicará o caráter sagrado que se atribui às coisas morais”.

3 – A Ética e a Psicologia
          A Psicologia é a ciência que estuda o comportamento humano. Sob os mais variados aspectos, no campo dos estímulos e das respostas.
          A Ética por seu lado estuda os atos morais do indivíduo, a partir do seu comportamento e as suas conseqüências dentro do contexto do certo e do errado, do bem e do mal.
           Logo, alguns aspectos éticos levam o indivíduo a ser observado pela psicologia, em seu comportamento. Portanto, essas duas ciências andam juntas.

4 – A Ética e as demais ciências
           A Ética relaciona-se com outras ciências que lidam com o caráter humano. A Pedagogia, por exemplo, não pode prescindir do apoio da Ética. Uma vez que o caráter humano é formado mediante padrões determinados pela Ética, e que esta formação pode ser orientada, ensinada pela Pedagogia, vemos que estas duas ciências estão interligadas. Tão ligados estão estes dois ramos do conhecimento humano que muitos consideram a Pedagogia como uma das partes da Ética. O que talvez tivesse um fundo de razão. Porém, a Pedagogia é uma ciência autônoma.
          Outra ciência que se relaciona com a Ética é a Teologia. Teologia é a ciência de Deus. Estuda o relacionamento de Deus com o universo criado e preservado por Ele mesmo, tendo como preocupação máxima a comunhão com o homem, expressão máxima de todos os seres criados. Considerando que Deus é um Ser moral [2], e que o homem também é, não poderemos dissociar uma ciência da outra. Teologia e Ética andam juntas. Uma serve de suporte para o estudo da outra. Vejamos: Deus é à base de toda a moralidade; a Ética sem base teológica torna-se apenas um ideal humanístico. Por outro lado, a religião, que envolve o aspecto teológico e moral, acaba por associar ainda mais estas duas ciências. Como exemplo, podemos citar a ética dos Dez Mandamentos (Êx 20:1-21). O Decálogo ocupa um lugar central na vida do povo de Israel, e prescreve toda a orientação teológica do certo e do errado, como regra do bem viver. Este fato levou Andrew Osborn a afirmar com muito acerto: “Os Dez Mandamentos são a pedra angular da ética hebraica, ocupando o mesmo lugar na religião de Israel que o Sermão do Monte ocupa no Cristianismo”.

UNIDADE III – ÉTICA APLICADA

         
É correto mentir a fim de salvar uma vida? A pergunta postula um conflito em normas éticas. Contar a verdade é mais importante do que salvar vidas? O que você faria? As várias respostas a esta pergunta podem ser usadas para ilustrar seis abordagens básicas à ética. Todos os pontos de vista éticos têm a ver com perguntas éticas fundamentais: existem normas éticas válidas? Se existem, quantas são? E se existirem muitas normas éticas, o que se faz quando duas delas entram em conflito? A pessoa conta uma mentira para salvar uma vida, ou sacrifica uma vida para salvar a verdade?

1 - Uma história e muitas alternativas éticas
As posições básicas que podem ser adotadas quanto à questão das normas éticas podem ser ilustradas por um caso recente que envolveu o Comandante Lloyd Bucher, do navio-espião Pueblo, que, com sua tripulação de 23 homens, foi capturado pelos norte-coreanos. Quando os interrogadores ameaçaram matar a tripulação, Bucher assinou confissões, confessando falsamente a culpa de fazer espionagem nas águas territoriais da Coréia do Norte. Estas falsas confissões vieram a ser o fundamento para poupar as vidas da tripulação e levar à sua libertação. A pergunta, portanto, é esta: a mentira de Bucher para salvar vidas foi moralmente justificada? Ou, de modo mais geral, mentir para salvar uma vida é moralmente certo em qualquer situação?
Não podemos deixar de citar a história de Raabe e os espias, narrada no Livro de Josué. Raabe havia escondido os espias no eirado de sua casa, mas quando indagada pelos soldados do rei de Jericó, ela mentiu para salvar a vida dos espias. Volta-se novamente a pergunta: mentir para salvar uma vida é justificável?
Vejamos as posições básicas que podemos adotar quanto às questões de normas éticas.

·              (1) O Antinomismo - A primeira alternativa no que diz respeito às normas éticas é que não existe norma alguma ou pelo menos nenhuma norma objetiva. Ou seja: estamos literalmente sem lei (anti-nomos) para guiar ações éticas relevantes.
                  Neste caso o comandante Bucher não está errado nem certo, pois não existem normas para se avaliar. Mentir não é certo e nem errado, depende do ponto de vista de cada um.
 (2) O Generalismo – Esta afirma que: Não há normas universais. Reconhece que existem muitas normas éticas de aplicação geral, mas não universal. O valor de uma ação não é julgado pelo valor intrínseco e universal, mas pelo resultado da ação. Para este caso o comandante Bucher é absolvido porque sua ação resultou na salvação de muitas outras vidas. Mentir é errado, mas salvar vidas justifica o erro.
 (3) O Situacionismo – Esta posição afirma que há uma só norma universal. De modo contrário àquilo que a palavra “situacionismo” talvez parece subentender, ela não é usada para representar uma ética completamente sem normas. O situacionismo está localizado entre os extremos do legalismo e do antinomismo. Os antinomistas não têm leis, os legalistas têm leis para tudo, e o situacionismo tem uma só lei. Essa lei é o amor. O comandante Bucher deve ser julgado por sua motivação. O que o levou a mentir? Foi um ato de egoísmo ou de amor ao próximo?  Mentir é errado, mas mentir por amor, o torna desculpável.
                (4) O Absolutismo Não-Conflitante – Os absolutistas tradicionais sustentam ou entendem que há muitas normas absolutas que nunca entram realmente em conflito. Cada norma abrange sua própria área de experiência humana e nunca entra em conflito real com outra norma absoluta. Neste caso, o comandante Bucher, não tinha realmente um conflito. Não existia a possibilidade entre mentir ou salvar vidas. Ele não podia mentir. Poderia ter se calado? Poderia ter falado a verdade? A continuidade da história a partir deste ponto pertence a Deus. Quem poderia afirmar com precisão absoluta que os coreanos matariam toda a tripulação?
            (5) O Absolutismo Ideal – Estes compreendem que há muitas normas universais conflitantes. Neste quando normas éticas entram em conflitos se devem optar por aquela que trará menos danos ou que causará menor mal. Neste caso se erra por desobedecer a uma norma, mas se é desculpável por causa do dilema trágico em que a pessoa se acha. O comandante Bucher errou ao mentir, mas pode ser considerado perdoado porque escolheu o caminho que causaria menor mal.
             (6) O Hierarquismo – Esta posição afirma que há normas universais hierarquicamente ordenadas. Embora as normas universais possam entrar em conflito, a decisão ética deve ser tomada sempre em favor da posição ética superior, isto é, a pessoa está moralmente com a razão ao quebrar a norma inferior a fim de guardar a superior. O comandante Bucher acertou ao mentir, embora mentir seja errado, escolhendo sacrificar sua vida em prol de sua tripulação.

      2 - Éticas praticadas no mundo atual
Cada um de nós tem uma ética. Cada um de nós, por mais influenciado que seja pelo relativismo e pelo pluralismo de nossos dias, tem um sistema de valores interno que consulta no processo de fazer escolhas. Nem sempre estamos conscientes dos valores que compõem esse sistema, mas eles estão lá, influenciando decisivamente nossas opções.
Os estudiosos do assunto geralmente agrupam as alternativas éticas de acordo com o seu princípio orientador fundamental. As principais são: humanística, natural e religiosa.

(1)     ÉTICAS HUMANÍSTICAS
As chamadas éticas humanísticas são aquelas que tomam o ser humano como a medida de todas as coisas, seguindo o conhecido axioma do antigo pensador sofista Protágoras (485-410 AC). Ou seja, são aquelas éticas que favorecem escolhas e decisões voltadas para o homem como seu valor maior.
a)       Hedonismo
Uma forma de ética humanística é o hedonismo. Esse sistema ensina que o certo é aquilo que é agradável. A palavra "hedonismo" vem do grego e significa "prazer". Como movimento filosófico, teve sua origem nos ensinos de Epicuro e de seus discípulos, cuja máxima famosa era:
 "comamos e bebamos porque amanhã morreremos". O epicurismo era um sistema de ética que ensinava, em linhas gerais, que para ter uma vida cheia de sentido e significado, cada indivíduo deveria buscar acima de tudo aquilo que lhe desse prazer ou felicidade.
Como consequência de sua ética, os hedonistas se abstinham da vida política e pública, preferiam ficar solteiros, censurando o casamento e a família como obstáculos ao bem maior, que é o prazer individual. Alguns chegavam a defender o suicídio, visto que a morte natural era dolorosa.
Como movimento filosófico, o hedonismo passou, mas certamente a sua doutrina central permanece em nossos dias. Somos todos hedonistas por natureza. O individualismo exacerbado e o materialismo moderno são formas atuais de hedonismo.
O hedonismo não tem muitos defensores modernos, mas podemos mencionar Gustav Fechner, o fundador da psicofísica, com sua interpretação do prazer como princípio psíquico de ação, a qual foi depois desenvolvida por Sigmund Freud como sendo o princípio operativo do nível psicanalítico do inconsciente.
Muito embora o cristianismo reconheça a legitimidade da busca do prazer e da felicidade individuais, considera a ética hedonista essencialmente egoísta, pois coloca tais coisas como o princípio maior e fundamental da existência humana.
b)       Utilitarismo
Outro exemplo de ética humanística é o utilitarismo, sistema ético que tem como valor máximo o que considera o bem maior para o maior número de pessoas. Em outras palavras, "o certo é o que for útil". As decisões são julgadas, não em termos das motivações ou princípios morais envolvidos, mas dos resultados que produzem. Se uma escolha produz felicidade para as pessoas, então é correta. Os principais proponentes da ética utilitarista foram os filósofos ingleses Jeremy Bentham e John Stuart Mill.
A ética utilitarista pode parecer estar alinhada com o ensino cristão de buscarmos o bem das pessoas. Ela chega até a ensinar que cada indivíduo deve sacrificar seu prazer pelo da coletividade (ao contrário do hedonismo). Entretanto, é perigosamente relativista: quem vai determinar o que é o bem da maioria? Os nazistas dizimaram milhões de judeus em nome do bem da humanidade. Antes deles, já era popular o adágio "o fim justifica os meios". O perigo do utilitarismo é que ele transforma a ética simplesmente num pragmatismo frio e impessoal: decisões certas são aquelas que produzem soluções, resultados e números.
                   c) Existencialismo
Ainda podemos mencionar o existencialismo, como exemplo de ética humanística. Defendido em diferentes formas por pensadores como Kierkegaard, Heiddeger, Sartre e Simone de Beauvoir, o existencialismo é basicamente pessimista. Existencialistas são céticos quanto a um futuro róseo ou bom para a humanidade; são também relativistas, acreditando que o certo e o errado são relativos à perspectiva do indivíduo e que não existem valores morais ou espirituais absolutos. Para eles, o certo é ter uma experiência, é agir — o errado é vegetar, ficar inerte.
Sartre, um dos mais famosos existencialistas, disse: "O mundo é absurdo e ridículo. Tentamos nos autenticar por um ato da vontade em qualquer direção". Pessoas influenciadas pelo existencialismo tentarão viver a vida com toda intensidade, e tomarão decisões que levem a esse desiderato. Aldous Huxley, por exemplo, defendeu o uso de drogas, já que as mesmas produziam experiências acima da percepção normal. Da mesma forma, pode-se defender o homossexualismo e o adultério.
O existencialismo é o sistema ético dominante em nossa sociedade moderna. Sua influencia percebe-se em todo lugar. A sociedade atual tende a validar eticamente atitudes tomadas com base na experiência individual. Por exemplo, um homem que não é feliz em seu casamento e tem um romance com outra mulher com quem se sente bem, geralmente recebe a compreensão e a tolerância da sociedade.

(2)     ÉTICA NATURALÍSTICA
Esse nome é geralmente dado ao sistema ético que toma como base o processo e as leis da natureza. O certo é o natural — a natureza nos dá o padrão a ser seguido.
 A natureza, numa primeira observação, ensina que somente os mais aptos sobrevivem e que os fracos, doentes, velhos e debilitados tendem a cair e a desaparecer à medida que a natureza evolui.
Logo, tudo que contribuir para a seleção do mais forte e a sobrevivência do mais apto, é certo e bom; e tudo o que dificultar é errado e mau.
Por incrível que possa parecer essa ética teve defensores como Trasímaco (sofista, contemporâneo de Sócrates), Maquiavel, e o Marquês de Sade. Modernamente, Nietzsche e alguns deterministas biológicos, como Herbert Spencer e Julian Huxley.
A ética naturalística tem alguns pressupostos acerca do homem e da natureza baseados na teoria da evolução: (1) a natureza e o homem são produtos da evolução; (2) a seleção natural é boa e certa. Nietzsche considerava como virtudes reais a severidade, o egoísmo e a agressividade; vícios seriam o amor, a humildade e a piedade.
Pode-se perceber a influência da ética naturalística claramente na sociedade moderna. A tendência de legitimar a eliminação dos menos aptos se observa nas tentativas de legalizar o aborto e a eutanásia em quaisquer circunstâncias. Os nazistas eliminaram doentes mentais e esterilizaram os "inaptos" biologicamente. Sade defendia a exploração dos mais fracos (mulheres, em especial). Nazistas defenderam o conceito da raça branca germânica como uma raça dominadora, justificando assim a eliminação dos judeus e de outros grupos. Ainda hoje encontramos pichações feitas por neonazistas nos muros de grandes cidades brasileiras contra negros, nordestinos e pobres. Conscientemente ou não, pessoas assim seguem a ética naturalística da sobrevivência dos mais aptos e da destruição dos mais fracos.

(3)     ÉTICAS RELIGIOSAS
São aqueles sistemas de valores que procuram na divindade (Deus ou deuses) o motivo maior de suas ações e decisões. Nesses sistemas existe uma relação inseparável entre ética e religião. O juiz maior das questões éticas é o que a divindade diz sobre o assunto. Evidentemente, o conceito de Deus que cada um desse sistema mantém, acabará por influenciar decisivamente o código ético e o comportamento a ser seguido.

                a) Éticas Religiosas Não Cristãs
          No mundo grego antigo os deuses foram concebidos (especialmente nas obras de Homero) como similares aos homens, com paixões e desejos bem humanos e sem muitos padrões morais (muito embora essa concepção tenha recebido muitas críticas de filósofos importantes da época). Além de dominarem forças da natureza, o que tornava os deuses distintos dos homens é que esses últimos eram mortais. Não é de admirar que a religião grega clássica não impusesse demandas e restrições ao comportamento de seus adeptos, a não ser por grupos ascéticos que seguiam severas dietas religiosas buscando a purificação. O que pensamos acerca de Deus irá certamente influenciar nosso sistema interno de valores bem como o processo decisório que enfrentamos todos os dias. Isso vale também para ateus e agnósticos. O seu sistema de valores já parte do pressuposto de que Deus não existe.
            b)  Ética Cristã
           A ética cristã tem elementos distintivos em relação a outros sistemas. O teólogo Emil Brunner declarou que a ética cristã é a ciência da conduta humana que se determina pela conduta divina. Os fundamentos da ética cristã encontram-se nas Escrituras do Antigo e do Novo Testamento, entendidas como a revelação especial de Deus aos seres humanos, e, portanto está presente na vida do homem desde o Éden, senão vejamos:

·         Ética no período da Inocência
          Para se compreender a ética Cristã é óbvio que temos que começar com o Antigo Testamento, devemos observar duas características da ética hebraica, uma vez que o Antigo Testamento tem a sua base na história do povo hebreu: (1) a ética hebraica é essencialmente teocêntrica (Deus é a fonte de toda a exigência moral, e é o supremo bem); (2) a ética hebraica é prática.
          No período da Inocência, podemos destacar os seguintes aspectos relacionados com a ética: (1) O homem foi feito à imagem e semelhança de Deus. Ele era perfeito físico, mental e moralmente; além de ser dotado de livre arbítrio; (2) Sua missão era: (a) ocupar a Terra demograficamente, (b) comer somente ervas e frutas, (c) guardar o Jardim do Éden, (d) abster-se de comer da árvore do conhecimento do bem e do mal, (e) viver em liberdade total com apenas uma proibição, tendo como opção obedecer ou desobedecer a Deus, sob pena de morrer.

·         Padrões éticos na época patriarcal
          A época patriarcal é considerada dentro do período que vigorou o regime em que grandes chefes de famílias se destacavam dentro do plano divino, influenciando a história bíblica. A liderança de um patriarca, com a sua morte, passava para o filho primogênito, e assim sucessivamente. Vejamos alguns patriarcas mais importantes e os padrões éticos vigentes na sua época:
          (1) Noé – Ele não está dentro do período chamado patriarcal, mas era um patriarca do seu tempo. Em sua época vemos que: (a) o pecado se alastrou arruinando os padrões morais; (b) Deus desejou não ter criado o homem; (c) houve a confusão de línguas e a conseqüente dispersão; (d) o Dilúvio e o Pacto; (e) o desejo de unir as famílias para fazer um povo forte sob a liderança de um homem, contrariando a vontade de Deus.
          (2) Abraão, Isaque e Jacó – Esses são os patriarcas mais famosos. Características marcantes: (a) o mundo havia se tornado politeísta; (b) Abraão e sua promessa; (c) a salvação do homem contaria com a misericórdia de Deus; (d) fé, circuncisão, sacrifícios, separação; (e) aqui começou o caminho do Messias; (f) a linhagem dos fiéis (o remanescente); (g) toda a trajetória do plano divino teve a sua resposta baseada na obediência de padrões éticos estabelecidos.

·         Padrões éticos na época de Moisés
          Não poderíamos falar de ética sem falar de Moisés e sem falar dos Dez Mandamentos. A grande síntese da moralidade bíblica está expressa nos Dez Mandamentos (Ex 20, 1-17; Dt 5, 6-21). As chamadas “duas tábuas da lei” mostram os deveres das pessoas para com Deus e para com o seu próximo. O Reformador João Calvino falava nos três usos da Lei: judicial, civil e santificador. Todas as confissões de fé reformadas dão grande destaque à exposição dos Dez Mandamentos.

·         Conceitos morais do povo de Israel no livro de Juízes
          Do ponto de vista moral, o povo de Israel, no período dos juízes, se conduziu pelos padrões éticos do Decálogo. A Lei (Torah) era a regra de conduta, fé e prática. O povo estava vivendo uma nova experiência, quase uma nação organizada, se bem que não havia uma unidade nacional, mas as 12 tribos já viviam em torno de um mesmo ideal. Foram aproximadamente 400 anos de obediência e vitórias, desobediência e derrotas. Nesse período, os padrões éticos estabelecidos pela Lei foram questionados e muitas vezes esquecidos.

·         Conceitos morais do povo de Israel no período dos reis
          Poderíamos chamar a ética desse período de a ética dos profetas. Pois, foi nesse tempo introduzida a era dos profetas, e Samuel foi o primeiro. Com a mudança da teocracia para a monarquia, Israel estava vivendo uma nova era, sob vários aspectos. Nesse período, a ética hebraica alcançou o seu clímax, quando profetas interpretaram para o povo, mais claramente a vontade de Deus. Isso provocou grandes mudanças:
          (1) Do ponto de vista social – (a) foram feitas grandes mudanças sociais; (b) de seminômades, passaram a uma cultura agrária e urbana; (c) a unidade nacional trouxe grandes responsabilidades
          (2) Do ponto de vista político – (a) a grande mudança do regime teocrático pelo monárquico foi o que mais marcou o aspecto político; (b) aconteceu o envolvimento com questões e intercâmbio internacional; (c) agitações políticas, guerras ideológicas e sujeição a outras nações.
          (3) Do ponto de vista religioso – (a) a fé se encontrava divorciada da prática da justiça; (b) a ética do Decálogo fora esquecida e materializada; (c) os profetas tiveram que se esforçar muito para conseguir pouco.
          (4) Do ponto de vista econômico – (a) as injustiças sociais foram evidenciadas dando origem a uma elite privilegiada em contraste a uma classe pobre e escravizada;
          (5) Do ponto de vista moral – (a) tribunais corruptos; (b) juizes subornados; (c) a embriaguez era comum entre homens e mulheres; (d) as capitais Jerusalém e Samaria eram grandemente corruptas; (e) os profetas se esforçaram para apresentar o ideal de Deus, e enfatizaram a mensagem de um Deus único, um Deus santo e um Deus soberano; (f) os profetas fizeram um convite à ética do Decálogo e usaram as experiências obtidas através da história.

·         Conceitos morais cristãos (a ética de Jesus)
           Jesus é a completa revelação da vontade de Deus. Nele os ensinos morais da Lei e dos profetas se cumprem e são aperfeiçoados. A justiça de Amós, o amor de Oséias, a santidade de Isaías e a sabedoria dos sábios estão reunidas em Cristo.
          (1) Jesus é o mestre supremo da moralidade – (a) Jesus sempre esteve interessado na salvação do homem, e também no seu comportamento; (b) Jesus ensinou princípios éticos e não regras apenas (isso deu ao seu ensino grande validade e permanência); (c) Os ideais de Cristo são sempre atuais; (d) Jesus deu ênfase à inseparabilidade da Teologia da Ética; (e) a moralidade de Jesus é teocêntrica; (f) a ética de Jesus é para os crentes, e o ideal para toda a humanidade; (g) ela apela para o comportamento interno; (h) a ética de Jesus é baseada no amor.         
          (2) O conteúdo da ética de Cristo – O Sermão do Monte (Mt caps. 5 a 7) não representa toda a ética de Cristo, mas é uma sinopse e um bom testemunho de toda a Ética Cristã.

·         A ética da igreja primitiva
          As bases para os ensinos éticos da igreja são fundamentadas em doutrinas bíblicas bem demarcadas: (1) é uma ética cristocêntrica; (2) é uma ética do Espírito Santo; (3) a fé e o arrependimento seriam o princípio da obediência à ética da igreja e de Cristo; (4) o amor continuaria sendo o mais importante princípio da ética da igreja; (5) a justiça seria destacada também na ética da igreja; (6) o culto racional (com a razão), o desejo de agradar a Deus, a hospitalidade e a fraternidade fariam parte da ética da igreja de todos os tempos; (7) a esperança escatológica faria parte da mensagem da ética da igreja.

·         Padrões éticos para o cristão moderno
          A igreja que vive uma ética fundamentada na Palavra de Deus se torna um agente transformador da sociedade. Foi isto que aconteceu nos países protestantes que foram profundamente influenciados pela ética cristã. Neles a democracia e a justiça tornaram-se fundamentos básicos da sociedade. Observe agora alguns padrões éticos para o cristão moderno:
          (1) Ética teocêntrica – A ética cristã está fundamentada na revelação de Deus e sua vontade, que está nas Escrituras. A questão básica é o que Deus quer de nossas vidas, e isto está declarado em sua Palavra (Mq 6.8; Dt 8).
          (2) Ética cristã – Está condicionada a Cristo, em quem encontramos a mais perfeita revelação da vontade de Deus. A conduta correta nos torna imitadores de Cristo, e deve resultar na nossa transformação, conforme a sua imagem (II Co 3.18; Ef 4.11-13). Uma ética que nos torna apenas diferentes do mundo, mas não nos aproxima da imagem de Cristo, não é cristã.
           (3) Ética imutável – Os princípios morais estabelecidos por Deus são válidos para todas as épocas, sendo um referencial para os cristãos que vivem em uma sociedade em constante mudança (Tg 1.17; I Pe 1.24-25; Mt 5.17-18).
          (4) Ética absoluta – Todos os homens estão debaixo das normas da lei de Deus, e a quebra desta lei se constitui transgressão, resultando em pecado (I Jo 3:4). Os homens são pecadores por não viverem de acordo com esta Lei Universal (Rm 3.22).
          (5) Ética abrangente – Não existe uma área da vida humana para as quais Deus não tenha deixado as suas normas. No texto de Cl 3, podemos identificar as seguintes áreas que envolvem a nossa vida: (a) vida pessoal (vs. 5-11); (b) vida na igreja (vs. 12-16); (c) vida em família (vs. 18-21); (d) vida profissional (vs. 22-25); (e) todas as nossas ações (vs. 17 e 23).

Considerações finais

          Neste curso nos propomos a estudar os princípios e valores da Palavra de Deus, que devem ser aplicados ao contexto vivencial do cristão, para a formação de uma “inteligência moral”. Em suma, Ética Cristã.
          Na próxima etapa estudaremos a Ética Pastoral, com a discussão de vários aspectos relacionados ao ministério pastoral cristão. Serão abordados assuntos concernentes às condições morais da autoridade pastoral, bem como a relação deste com a sua família, seus colegas e a igreja.













[1] DURKHEIM, Emílio. Sociologia y Filosofia. p. 138-143.
[2] Quando olhamos para o seu comportamento criativo, vemos que Deus realiza tudo com perfeição (Gn 1.31). Além disso, Deus é a própria bondade e perfeição (Sl 34.8; Mc 10.18).

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